Os Evangelhos nada relatam sobre a
vida diária no lar da sagrada família, e poucos detalhes nos transmitem dos
principais episódios da infância de Jesus, como a apresentação, a adoração dos
Reis, a fuga para o Egito ou a perda e encontro do Menino Jesus no Templo.
Apenas São Lucas, após narrar esta cena, faz referência à vida oculta de Nosso
Senhor, resumindo-a nesta curta frase: “Em seguida, desceu com eles a Nazaré e
lhes era submisso” (Lc 2,5-10)
O que fez Jesus nos anos decorridos
até o seu Batismo no Jordão? Quais eram suas ocupações? Frequentou alguma escola?
Teve amigos? Sobretudo, que razão sapiencial o levou a viver entre os homens
durante tantos anos sem lhes manifestar sua divindade?
Estas e muitas perguntas vêm sendo
suscitadas pela piedade dos fiéis, desde os primeiros anos do Cristianismo.
Cabe saber se para elas há alguma resposta...
Com base em diversas passagens dos
Santos Evangelhos, podemos compor alguns aspectos da vida de Nosso Senhor Jesus
Cristo em Nazaré.
No início de sua vida pública,
vê-se que Ele era conhecido como “Jesus de Nazaré, filho de José”(Jo 1,45; Lc
4,22). Na sinagoga da sua cidade natal, os judeus se perguntam: “Não é este o
filho do carpinteiro? Não é Maria sua Mãe?” (Mt 13,55). E segundo São Marcos,
os nazarenos o conheciam como “o carpinteiro, o Filho de Maria” (Mc 6,3).
Portanto, com base nas palavras da
Escritura, sabemos que Jesus era, não apenas “filho do carpinteiro”, mas
carpinteiro ele próprio. Bela lição de humildade e despretensão! O Homem-Deus,
que com um simples ato de vontade poderia criar quantos universos quisesse,
exerceu uma humilde profissão de trabalhador manual.
Mais ainda: na casa de Nazaré, o “maior
se submete ao menor”. Maria Santíssima, venerada como Senhora e
Rainha por todos os Anjos, obedecia a seu esposo e, por outro lado, exercia
autoridade materna sobre o filho do Altíssimo. E São José, reconhecendo embora
a superioridade insondável de Maria e a infinita de Jesus, dava ordens e
conselhos à Sabedoria Eterna e Encarnada. O Evangelista não deixa dúvida a este
respeito; Jesus “lhes era submisso”(Lc 2, 51).
Fazendo-se Homem, sujeitou-se às
“mesmas provações que nós, com exceção do pecado” ( Hb 4,15), deixando-nos
assim um exemplo a seguir. Entretanto, num ponto Ele não se submeteu as contingências
humanas: não frequentou nenhuma escola rabínica. Com efeito, lê-se no Evangelho
de São João: “Os Judeus se admiravam e diziam: Este Homem não fez estudos.
Donde lhe vem, pois, este conhecimento das escrituras?”(7,15).
Com isso, quis porventura nosso
Redentor ensinar ou sequer insinuar que os jovens não precisam submeter-se à
disciplina e aplicar-se ao estudo? Por certo não. Todos os fatos de sua vida
devem ser contemplados levando em consideração seu desejo de fazer o bem a
todos. Ao ouvir a pergunta dos judeus, acima relatada, respondeu Jesus: “A
minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou” (Jo7,16). Se tivesse Ele
frequentado o curso de algum mestre da lei, esta sublime afirmação perderia
algo de sua força perante certos judeus, sobretudo os fariseus, os quais dariam
pouco crédito aos seus ensinamentos, sob a alegação de terem sido aprendidos de
um mestre humano, portanto Filhos e Filhas de Deus aprendamos dele “que é manso e humilde de coração” e
deixaremos nos impregnar deste sublimo exemplo e, assim, nos tornar cada dia mais
cristiformes. Amém .
Pe.
Chagas Vigário paroquial de Parambu Ceara
15/12/2015
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